Uma barraca de praia à beira das águas calmas da Praia do Francês foi o local para a entrevista com a pesquisadora especialista em ecossistemas costeiros, Neyla Rogéria Farias. Ela descobriu um inseto aquático – que costuma ser encontrado a 2 mil quilômetros oceano adentro – de nome científico, Halobates Micans ou Patinador do Oceano, bem pertinho da costa, na área de rebentação do surf na Praia do Francês. Desde o início da entrevista, a pesquisadora deixou bem claro que não descobriu o inseto, mas que identificou sua ocorrência numa nova área, onde até agora ele não havia sido registrado, à Praia do Francês, município de Marechal Deodoro, Alagoas. Orientada pelo professor Mestre e Pesquisador da Universidade Federal de Alagoas, Gabriel Le Campion, que confirma a descoberta inédita da pesquisadora sobre o espécime em ocorrência no Oceano Atlântico, Neyla nos explica os fatores que propiciam a ocorrência do inseto. “Existe um fator, que faz com que ele apareça: é a temperatura da água, que não deve estar com temperatura superior a 28 o C, o que acontece no Francês apenas nos meses de inverno de Maio a Julho”, afirmou a pesquisadora, “porque nos outros meses a temperatura da água é sempre maior que os 28o C”, disse. Apontou para alguns dos insetos embebidos em álcool: fêmeas e machos; Neyla nos mostrou as patas alongadas do inseto algo em torno dos dez milímetros e nas patas cerdas que funcionam como “pneuston”, que segundo Le Campion, “são cerdas que se abrem e o organismo se ergue sobre a água”, disse o professor, propiciando a ação de patinação na água. A curiosidade pela pesquisa partiu de uma conversa com o professor cientista Le Campion sobre insetos. “A gente sabe que existem inúmeros insetos, no campo, no ar”, disse ele. “E daí fui pesquisar”, disse Neyla. Até agora o patinador oceânico só tinha sido encontrado a Sudeste do Estado de São Paulo, segundo a pesquisadora, no meio do Oceano, e os registros até aqui foram fruto de pesquisas onde foi obrigatória a embarcação do pesquisador em barcos cruzeiros e dias em mar aberto, já na ocorrência da Praia do Francês a busca foi na área de rebentação, na área de surf. Segundo Le Campion, as correntes oceânicas que proporcionaram a descoberta do inseto tão próximo à costa deverão ser investigadas e “esse é o único espécime com ocorrência no Oceano Atlântico, os outros ocorrem no Oceano Pacífico”, disse o professor universitário.