Crônica do Carlito Lima: A Austríaca Apaixonada
Nesse sábado desci à praia para um mergulho, comer um delicioso acarajé da Irmã, em frente ao Hotel Meliá. Acarajé e cerveja na mão, eu procurava cadeira quando alguém acenou: – Capitão me dê o prazer, sente aqui na minha mesa. Reconheci o amigo Edson, ex-garçom do Restaurante Spettus. Perguntou por Guilherme Palmeira e outros amigos. Bem sentado eu observava os freqüentadores da praia, jovens, coroas, negros, brancos, pobres, ricos, mulheres seminuas, atletas. A praia é o espaço, a diversão mais democrata de uma cidade. Edson deixou de ser garçom há seis anos, agora é locador de cadeiras, mesas e sombrinhas naquele pedaço da orla. Está devidamente registrado na prefeitura, mostrou-me o crachá. Na temporada de turismo trabalha até mais tarde. Negócio próprio, dá para sobreviver, sustentar a mulher (separada) e o filho. Está satisfeito e feliz com sua locadora de cadeiras de praia. Alguém viu um disco voador ou meteoro atravessando os céus da Jatiúca, era o comentário na mesa vizinha, quando de repente apareceu um meteoro humano em forma de mulher. Falsa magra, rosto oval, pele queimada ao sol. Os cabelos louros, dourados, cobriam parte do rosto. Olhos azuis claros, brilhantes, nariz reto, perfil grego, mulher da boca pequena, lábios encarnados, carnudos e molhados. Vestia um minúsculo biquíni branco, ficou em pé junto à nossa mesa, pediu ao Edson uma cadeira. Percebi que era estrangeira, regulava entre 35 e 40 aninhos. Edson levantou-se com presteza, colocou a cadeira de praia onde a mulher indicou. Ao voltar, conversamos sobre a mulher. Edson me fez confidente, contou, fanfarrão, sua história. É austríaca, trabalha numa financeira, banco internacional. Ama e volta sempre a Maceió, hospeda-se no Hotel Meliá. Tem 42 anos, e se engraçou do Edson. Diariamente vem à praia tomar sol, bebe cerveja. Ao entardecer volta ao hotel. É quando Edson acaba o trabalho, arruma o material num carro de mão, guarda num depósito. Toma banho, veste roupa de grife, presente da austríaca, e segue para o hotel. Sobe ao apartamento. A bela estrangeira o espera de lingerie, pronta para a guerra e o amor. Assim que Edson entra no apartamento, se abraçam, não param mais. Edson confessou, aprendeu muito com a coroa, ganha presentes. É a terceira vez que aparece nesse ano. Terceira lua-de-mel. Devassa como nunca vi, bom demais, capitão! A austríaca se aproximou, conversa acabou. Deu boa tarde, sentou-se junto a Edson. Fui apresentado, fala bem o português, conversamos. Eu disse que era escritor, quis impressioná-la, prometi meus livros. Ela não se interessou, estava em outras concentrações, só olhava e alisava o Edson. Mal falou comigo, estrangeira sem educação, beijou a boca do Edson, eu ali como se fosse o homem invisível. Falta de respeito! Depois de algum tempo, percebi, eu estava sobrando, disse, está na hora, vou embora. Paguei a conta, senti, a bela ficou satisfeita com minha saída. Voltei para meu confortável apartamento, matutando, pensando na austríaca apaixonada, como o amor é cego. Tantos homens interessantes, bons papos, engenheiros, escritores, capitães, até duques, a austríaca foi se engraçar do neguinho Edson, ex-garçom, locador de sombrinha. Mundo injusto!