Crônica do Carlito Lima: Correspondência recebida
Maceió, 21 de maio de 2010. Querido Capita. Sou sua escrava, cativa de seus escritos, de seus livros, domingo pela manhã eu lhe devoro em seu texto na Gazeta. Sou uma mulher à frente de meu tempo, quatro maridos, os dois últimos morreram em meus braços. Desculpe entrar na sua privacidade, é que nessa época de Copa do Mundo, lembro do acontecido com meu primo Aloísio, quase padre, hoje coronel reformado. Quem sabe se você aproveita a história em sua crônica? Aloísio era um menino, 15 anos, quando o fato aconteceu. Eu havia retornado do Rio de Janeiro, me separei do primeiro marido, 30 aninhos, fiquei hospedada na casa de um tio na Avenida da Paz. Adorava tomar banho na praia, o azul esverdeado do mar me fascinava. Mulher desquitada naquela época era sinônimo de vagabunda, todos os homens da cidade me olhavam com desejo, eu era gostosa, aliás, ainda sou aos 70 anos. A casa de meu tio, deputado, era uma espécie de embaixada do sertão. No quintal ele construiu oito quartos interligados para a família e eleitores, um banheiro em cada lado. Era uma festa a casa de meu tio. Ele arranjou-me uma sinecura na Assembléia que ainda me ajuda a viver. Durante a Copa de 1970 juntaram-se família e agregados para assistirem em duas televisões preto e branco os jogos do Brasil. Ganhamos os jogos, durante as comemorações sentia os olhares dos homens, dos primos, todos queriam me comer, eu fazia maior charme. Foi nesse clima que conheci o primo Aloísio, seminarista. O jovem ficava interno durante a semana rezando suas missas, aprendendo a ser mensageiro de Deus. Durante as folgas ele retornava para seu quarto na casa do tio. Notei que Aloísio tinha disfarçados olhares lascivos, ao vê-lo “secando” meu decote “tomara que caia”, brinquei no seu ouvido: “Cuidado, meu cardeal, priminha não é irmãzinha.” À noite eu estava dormindo, acordei-me ao sentir alguém passar pelo meu quarto para o banheiro, era Aloísio, eu de camisola curta, de bruços, as pernas aparecendo, dava-lhe uma bela visão erótica. Pela manhã, na hora do café comentei baixinho: “Eu lhe vi ontem à noite, gostou da priminha?” Aloísio ficou corado, calado, não olhou sequer para mim, estava de batina, voltava para o seminário. No dia do penúltimo jogo, Brasil 3 x 1 Uruguai, meu priminho estava alegre, sentamos juntos nas poltronas, não por coincidência, foi meu propósito, durante o jogo pegava em sua mão, apertava, ele amou esse carinho, certa hora ficamos de mãos dadas assistindo Pelé e Cia., notei a excitação do priminho pelo volume do calção. Quando acabou o jogo eu o abracei, beijei-lhe a orelha, ele ficou abaladíssimo. Todos tomavam cerveja, uísque, cachaça. Comemoração na Avenida onde carros desfilavam com bandeiras do Brasil. À noite eu esperei, sabia que o seminarista passaria por meu quarto para o banheiro, tirei a camisola, fiquei apenas de calcinha preta. Logo ele entrou, parou olhando embevecido, fingi que dormia, ele não saiu do lugar. Ao me “acordar” sorrindo, ele se precipitou ao banheiro. Só retornou para seu quarto depois de meia hora, ao passar o chamei brincando: “Meu bispo venha cá, converse comigo”. Ele correu para o quarto. No domingo, jogo final, Brasil x Itália, a cidade era uma festa, meu priminho havia chegado pela manhã. Quando eu o vi, disse para mim mesma, não passa de hoje! Sem algum remorso eu estava seduzindo um menino de 15 anos, metade de minha idade. Tinha consciência do pecado em desafiar as convicções de um jovem religioso. Deu-me essa vontade, o prazer de romper com os padrões, com o estabelecido. Mas é bom que se diga, Aloísio era bonito, o corpo espadaúdo me atraía. Um desperdício se entregar ao celibato. Na hora do jogo a bebida rolou, naquele dia entornei várias doses de uísque. Durante o jogo foi vibração, o time do Brasil dava um show ao vivo na televisão preto e branco. Não larguei meu seminarista, abraçava-o, beijava-o a cada gol do Brasil. 4 x 1, tricampeão mundial. Descemos para a Avenida da Paz, uma festa, carros buzinando. Eu feliz junto ao meu priminho. Certa hora beijei-lhe a boca, ele assustou-se. Ao anoitecer, segurei sua mão descemos à praia, andamos de mãos dadas na areia molhada, pés lavados pela água do mar, até ouvir e ver ao longe as luzes da festa. Sentamos acima, na areia macia e morna. Com minhas mãos trouxe seu rosto, olhos nos olhos, entreguei-lhe minha boca, meu corpo. Houve um delicado desvirginamento, enquanto eu gritava alto para o céu estrelado: Meu padreco! Meu padreco!! Aloísio logo deixou o seminário, entrou na Escola de Cadetes do Exército. Em época de Copa do Mundo, sempre lembro o primo. Estou na expectativa da Copa 2010. Quem sabe se não acho alguém, com 35, metade de minha idade? Um abraço da sua, Martha